domingo, 29 de janeiro de 2017

Os cuidados para não subestimar ou superestimar os usuários




Há alguns meses ouvi, na coluna "Dentro do Espelho" apresentada pela jornalista Inês de Castro na Band News FM, uma crítica ao atendimento eletrônico (que os mais familiarizados com o mundo das telecomunicações e contact centers conhecem como URA - Unidade de Resposta Audível, ou ainda como IVR - Interactive Voice Response).

Já ouvi e li diversas criticas sobre as soluções de URA, mas o que me chamou a atenção desta vez foi a argumentação de que, em muitos casos, as soluções estariam subestimando os usuários e se tornando "infantilizadas" no que se refere aos artifícios utilizados para parecerem mais humanizadas. 
A jornalista fez menção, inclusive, ao atendente virtual informar um nome próprio, aos já famosos áudios de teclado de computador (que simulam um operador digitando), ao uso de gírias e ao uso incorreto da Língua Portuguesa como recursos que tentam transmitir a impressão de modernidade e de ligação com o público mais jovem, mas que acabam apenas irritando o usuário que, por sua vez, sente-se subestimado.

Além da coluna já citada, recentemente li um artigo chamado "Interactive Voice Response Systems and Other Inhuman Monsters" (escrito pelo consultor norte-americano Doug Tanoury). No artigo, o autor aborda a genialidade na ideia de se automatizar diversos processos de atendimento (ou até mesmo de se automatizar todo o processo de atendimento, partindo para um modelo "self-service") e de como estas iniciativas infelizmente "tropeçam" em função de más concepções e do fato de que as empresas quase sempre ignorarem o ponto de vista do usuário final da solução. O autor explica que, para muitos usuários, as soluções automatizadas de atendimento são vistas como obstáculos a serem vencidos e que são desenhadas para evitar que o usuário consiga contato com o atendimento humano. Esse desencontro dos anseios dos usuários com as soluções oferecidas é fruto da postura dos provedores dos serviços que, em grande parte, elaboram suas soluções considerando apenas o ponto de vista do negócio e, consequentemente, empobrecendo a experiência do usuário. O autor ressalta ainda que é necessário que os provedores destas soluções conheçam o comportamento dos usuários dentro da solução e que, baseado em dados precisos, redefinam as concepções de modo a eliminar tudo aquilo que não agrega valor e ir ao encontro das necessidades dos usuários com inovações que realmente façam diferença no atendimento. 

De fato, muitos provedores de soluções de atendimento desenham os fluxos de seus sistemas com base em seus próprios indicadores operacionais ou ainda de acordo com indicadores que almeja alcançar. Isso é até natural, uma vez que muitas informações fornecidas por contact centers são estáticas (e,portanto, podem ser gravadas), muitos processos são repetitivos e a disponibilidade de atendentes humanos nem sempre é a ideal em cenários de demanda dinâmica. O desafio das organizações está na necessidade de tornar os processos de atendimento mais eficientes com inovação sem prejudicar a experiência dos usuários e, para isso, é necessário conhecer muito bem o perfil dos usuários através de monitorias ostensivas e de relatórios precisos que contenham informações relevantes (tanto para os indicadores operacionais como para mensurar a qualidade da experiência oferecida ao usuário). 

Conhecendo bem os usuários finais do serviço, as organizações dificilmente cairão erro de subestimar (oferecendo algo que os usuários enxergarão como simplório) ou superestimar (oferecendo algo que os usuários enxergarão como "complicado" demais) o usuário.  

quinta-feira, 2 de julho de 2015

O que não pode ser medido, não pode ser gerenciado

"O que não pode ser medido, não pode ser gerenciado."
W. E. Deming
A célebre frase de William Edwards Deming (notável estatístico, consultor, conferencista e professor norte-americano) expõe uma verdade aplicável à qualquer situação, inclusive à experiência do cliente/usuário.
Nesse contexto, torna-se cada vez mais fundamental a mensuração dessa experiência oferecida, de modo que se possa identificar o status atual da qualidade oferecida (e percebida) como ponto de partida para o controle e melhoria.
Outro grande mestre da qualidade, Joseph M. Juran defende a ideia de que, se uma empresa não planeja a qualidade dos produtos e serviços que oferece, optou por não oferecê-la. Ou seja, por pura inércia muitas empresas deixam de se importar com a qualidade oferecida e, nesse cenário a insatisfação dos clientes é quase certa.
Tomemos por exemplo as soluções de atendimento automatizado, as unidades de resposta audível (URA/IVR): quantas empresas tem o cuidado de monitorar as interações que os clientes/usuários tem com a solução durante a passagem da chamada (navegação) pela mesma? Quantos problemas de usabilidade e falhas técnicas podem estar ocorrendo e prejudicando terrivelmente a experiência oferecida ao usuário/cliente?
É necessário que sejam estabelecidos indicadores mensuráveis que contemplem, além da eficiência técnica, a usabilidade da solução. Para cada tipo de central de atendimento e seus respectivos produtos há particularidades que precisam ser consideradas. Por exemplo, há URA’s cujo objetivo principal é a retenção de chamadas, outras que tem como foco o direcionamento ao atendente mais adequado, soluções que apenas fornecem informações, etc. Em geral, temos alguns indicadores mais comuns como o  Nível de Retenção, Direcionamento, Assertividade, Nível de Abandono, Tempo Médio de Navegação, Eficiência, Eficácia e Efetividade.

Independentemente dos indicadores aplicáveis a cada contexto, o importante é garantir que a melhor experiência possível seja oferecida aos clientes/usuários sempre.  

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Estaria o atendimento humano se tornando dispensável?

Recentemente ouvi uma propaganda de um aplicativo para smartphones voltado ao ramo de fast food/delivery, onde era oferecida como vantagem a possibilidade de realizar seu pedido e também o pagamento sem a necessidade de falar com um atendente (humano).

Em muitas outras frentes em que há atendimento ao cliente, estão ganhando cada vez mais força as soluções do tipo “self service” nas quais também é considerada uma vantagem a possibilidade de solucionar um problema, realizar uma compra ou obter uma informação sem que seja necessário interagir com outra pessoa. Estaria o atendimento humano se tornando dispensável?

Desde as grandes operações dos Contact Centers até o atendimento de uma pequena pizzaria, passando também pelos balcões de lojas físicas e agências bancárias, a qualidade do atendimento humano oferecido tem sofrido severas críticas por parte dos clientes que, por sua vez, começam a preferir outras alternativas.

As queixas contra os atendentes variam da falta de preparo para lidar com o público, falta de conhecimento sobre o produto, falta de privacidade (obrigatoriedade de informar ou confirmar dados pessoais), rigidez excessiva (e muitas vezes restritiva) dos procedimentos, imensos cadastros obrigatórios, lentidão e até mesmo a escassez de atendentes que fatalmente resulta em longas filas de espera. Tudo isso contribui para que os clientes tenham uma experiência ruim e, insatisfeitos, passem a evitar esse tipo de atendimento em situações futuras.

Frente aos desafios impostos por essa nova realidade, no mercado de tele-atendimento surgiu o conceito de Context Center, que seria uma evolução do atual Contact Center, dotado de um alcance mais abrangente proporcionado por múltiplos canais de atendimento, de maior flexibilidade nos processos e procedimentos e de informações suficientes para, com base em análises detalhadas, moldar-se ao contexto do cliente. Outro tema muito comentado atualmente é o da humanização do atendimento em soluções como URA, Text to Speech, Speech Analytics, chat, entre outras, para tornar as interações dos clientes com as mesmas mais naturais.

Já para outros ramos de atividade ou empresas de pequeno porte que lidam diretamente com o cliente o cenário ainda é incerto, mas algo precisa ser feito para melhorar o atendimento humano oferecido, antes que o mesmo se torne absolutamente indesejado pelos clientes.

Cabe aqui uma reflexão: onde as empresas em geral pecam para que a situação chegue em um cenário em que muitos clientes preferem o atendimento oferecido por um software, em detrimento do atendimento humano? 

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Analogia: As campanhas eleitorais e o Customer Service

Artist: Paul Kuczynski (Pawła Kuczyńskiego)

Você compraria um produto apenas pelo fato de que o vendedor afirmou que os produtos concorrentes são piores, sem analisar se o produto recomendado atende às suas necessidades?

Você contrataria os serviços de um prestador que não lhe explicou como esses serviços seriam prestados?

Você compraria um produto ou serviço de um vendedor que não demonstra as qualidades do que lhe oferece, mas utiliza como argumento de venda somente acusações contra a concorrência?

Você compraria um produto de um vendedor que, ao lhe descrever as vantagens e qualidades do produto, demonstre falta de convicção nas afirmações que faz?

Você contrataria um serviço sabendo da existência de um contrato de fidelidade com duração de quatro anos, sem saber ao certo se esse serviço atende às suas necessidades?

Você compraria um produto se o vendedor utilizasse apenas jargões e “frases feitas” para apresentá-lo?

Você compraria um produto sabendo de que será extremamente difícil reclamar (e ter sua reclamação atendida) sobre alguma insatisfação ou mau funcionamento com o mesmo?

Você compraria um produto caso o fabricante utilizasse propagandas que subestimassem sua inteligência ou ainda, que lhe faltassem com o respeito?

Caso a resposta para as perguntas acima seja um sonoro “não”, compare estas situações com as situações vivenciadas por todos nós nesse período de eleição, guardando as devidas proporções.

Quando realizamos uma compra ou contratação de um produto ou serviço e constatamos que existe alguma incoerência com as informações fornecidas no ato da venda, constatamos má qualidade ou defeitos, sabemos como proceder para registrar uma reclamação. Em boa parte dos casos teremos, ao menos, uma resposta para a reclamação. E quando nos arrependemos de eleger um político, encontrando divergência entre o discurso de campanha e a prática?

Os candidatos nada mais fazem além de tentarem nos convencer de que são as pessoas mais adequadas para prestarem serviços ao povo, portanto, não utilizem critérios diferentes daqueles que você utilizaria para escolher um prestador de serviço para sua casa, por exemplo. Se você exige qualidade em suas relações de consumo, não aceite qualquer coisa de um candidato aos cargos públicos, pois aqueles que forem eleitos prestarão serviços para todos nós pelos próximos quatro anos.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A importância da URA no atendimento telefônico



Embora o advento de novas tecnologias, novos meios de comunicação e o crescimento exponencial do uso de dispositivos móveis proporcionem múltiplas formas de interação entre clientes e empresas, o atendimento telefônico continua sendo fundamental para muitos ramos de atividade.

Devido às restrições da capacidade de atendimento telefônico enfrentadas em função de grandes demandas, muitas empresas (sejam elas contact centers ou não) são obrigadas a utilizar as chamadas Unidades de Resposta Audível, popularmente conhecidas como URA’s, de forma estratégica para distribuir as chamadas entre os atendentes e oferecer informação em esquema de auto-atendimento. O termo Unidade de Resposta Audível é o equivalente a nomenclatura original em inglês “Interactive Voice Response”, cuja sigla é IVR.  


Ao avaliar a qualidade do atendimento prestado aos clientes, muitas empresas se esquecem de analisar o primeiro contato desses clientes com o serviço, que consiste na navegação pela URA. Analisando apenas o atendimento humano não é possível identificar a possível insatisfação de um cliente com aspectos estruturais da URA que, muitas vezes, podem ser cansativos, confusos ou mesmo inadequados para o perfil e para as necessidades do público atendido. A insatisfação ou confusão durante a navegação na URA pode impedir que uma chamada chegue ao atendimento humano e isso, para muitos ramos de negócio (como uma central receptiva de televendas, por exemplo) significa perder dinheiro. 


Por outro lado, existem também casos em que a retenção na URA é positiva: situações em que o usuário seleciona as opções desejadas e ouve informações gravadas previamente. Essas situações precisam ser muito bem monitoradas, uma vez que o usuário pode encerrar a chamada após conseguir a informação desejada e também desistir durante as interações por insatisfação com as informações oferecidas ou por se confundir com os menus.  


Do ponto de vista do cliente, uma experiência ruim na URA pode ter o mesmo efeito de um atendimento humano mal realizado e, assim, resultar em reclamações e até mesmo na perda do cliente. Vale ressaltar também que, após vivenciar uma experiência ruim na URA, o cliente chegará ao atendimento humano irritado e isso pode comprometer todo o processo.


O ideal é que a empresa busque estruturar sua URA com linguagem clara, de modo que os serviços sejam encontrados com facilidade, economizando tempo e proporcionando uma experiência agradável ao cliente. Nesse intuito, muitas empresas fazem uso da tecnologia de reconhecimento de fala (ASR – Automatic Speech Recognition), que tem evoluído muito nos últimos tempos, embora ainda tenha muito a melhorar.


Dados obtidos através de sistemas de CRM e até mesmo soluções de Big Data tem proporcionado inovações positivas para as URA’s, como a personalização dos serviços oferecidos para um cliente que telefona com frequência, entre outros exemplos.


Uma tendência (muito bem vinda, por sinal) no desenvolvimento estrutural de URA’s é a utilização de conceitos de UX (User Experience), Design Thinking, Gamification e User Centered Design (design centrado no usuário) adaptados ao contexto de uma central de atendimento telefônico.  Esse deve ser o caminho para satisfazer clientes cada vez mais exigentes sem deixar de considerar os objetivos das empresas.


quarta-feira, 23 de julho de 2014

Ferramenta colaborativa online para gerenciar projetos e melhorar a produtividade.

No dia a dia, durante as rotinas de trabalho, todos já se depararam com algum tipo de dificuldade em organizar as tarefas (especialmente quando elas continuam a chegar sem que as primeiras estejam concluídas) ou mesmo em distribuir as tarefas de um projeto executado em equipe, assim como controlar o andamento dos processos.
A quantidade de informações que recebemos e mesmo a urgência de demandas inesperadas podem fazer com que as coisas fujam daquilo que foi planejado e muitas vezes provocam a postergação de trabalhos que estavam em andamento.
Pensando nesses problemas comecei a pesquisar sobre produtividade e, por recomendação de um colega, encontrei uma ferramenta extremamente útil para organizar as tarefas chamada Trello.



Desenvolvido pela empresa nova-iorquina Fog Creek, o Trello é uma ferramenta colaborativa online gratuita (embora também existam duas formas de utilização paga, com algumas funcionalidades extras) que tem como base o sistema Kanban (sistema que utiliza cartões de sinalização para controlar fluxos de produção) e que, graças aos múltiplos recursos que possui, pode facilmente ser adaptado para gerenciar projetos utilizando o método GTD (abreviação de “Getting Things Done” que é um método de organização e produtividade pessoal criado por David Allen) ou as chamadas “metodologias ágeis” para trabalho em equipe, como o Scrum.
O Trello é organizado em Boards, que funcionam como painéis de trabalho onde podem ser adicionados membros, podem ser configuradas permissões de acesso e realizar o acompanhamento das atividades.
 




Em cada Board devem ser criadas listas onde as tarefas serão criadas em forma de “Cards”. Cada “Card”, por sua vez, abrigará a descrição da tarefa (que pode ser associada à membros que façam parte da Board), com possibilidade de se registrar comentários, estipular prazos, criar checklists (subtarefas) e anexar arquivos diretamente ao card ou através de links do Google Drive, OneDrive ou Dropbox.



Cards podem ser movidos entre listas que podem representar escalas progressivas (“Solicitações”, ” Em Andamento” e “Concluídas”, por exemplo) conforme o método utilizado. É possível receber notificações por e-mail ou ainda acompanhar tudo online no smartphone ou tablet com os aplicativos para Android e Iphone.
 Há também outros recursos interessantes para visualização rápida como a possibilidade de utilizar stickers, rótulos (personalizáveis), “Card Aging” (envelhecimento de cards quando não há atividade) e visualização dos cards em um calendário (de acordo com os prazos estipulados).



Enfim, o Trello é uma ferramenta extremamente útil que vale a pena conferir, seja para organizar o desenvolvimento de software, trabalho em equipe, produtividade pessoal ou mesmo para planejar a próxima viajem de férias.
Link para o Trello